top of page

  Copa do Mundo 2018 e seus desdobramentos

Por Camilla Alves

Dostoiévski, Tolstói, Tarkovski, Tchaikovsky, Bakhtin, Stravinski, Kandinsky. Sempre que pensamos na Rússia associamos à literatura, música, dança, cinema e as artes plásticas. Devido ao contexto histórico de uma sociedade multiétnica, a cultura russa é referência mundial e fonte de orgulho para a sua nação. E no que diz respeito aos esportes?

 

A terra onde Napoleão perdeu sua primeira batalha, no século XIX, e que foi protagonista, juntamente com os EUA, da corrida espacial na metade do século XX, teve sua estreia esportiva mundial em 1980: pela primeira vez na Europa oriental e em um país socialista, na União Soviética, se realizaram os XXII Jogos Olímpicos de Verão. Independente da tentativa de boicote por parte dos EUA, esses jogos tiveram uma grande relevância política pois, apesar de receberem grande investimento governamental nesse campo, sua política “entre muros” os distanciavam dos demais países ocidentais.

 

De volta ao século XXI, outra estreia retorna ao território russo, desta vez a Copa do Mundo, considerado o fenômeno esportivo mais esperado em escala global. A vigésima primeira edição deste evento ocorrerá na Rússia, entre os meses de junho e julho do próximo ano, anfitriã da competição pela primeira vez, também inédita no Leste Europeu. Essa escolha não foi arbitrária, a FIFA (Federação Internacional de Futebol), responsável pela organização da cerimônia, escolheu o país devido ao aumento de interesse da população russa no futebol, através do investimento financeiro no esporte, por parte do governo, e o fortalecimento da Primeira Liga Russa, criada em 2001.

 

Desde que foi anunciado país-sede, em dezembro de 2010, vem gerando controvérsias. A situação política da Rússia encontra-se instável: apresenta índices de recessão, barreiras econômicas internacionais e conflitos armados na Ucrânia e na Síria. Apesar dos pesares, nem o escândalo que surgiu entre os anos de 2010 e 2012, sobre as suspeitas de manipulação de votos no processo de seleção das sedes das Copas de 2018 e 2022 afetou o presidente russo, Vladmir Putin. Putin é otimista quando afirma que o país foi eleito honestamente e está preparado para sediar o Mundial. Anos depois, o comitê de Ética da entidade concluiu que não houve irregularidade na candidatura.

 

Contexto Geopolítico

Ocupando a 154ª posição no ranking mundial dos países mais corruptos, segundo o Índice de Percepção de Corrupção de 2010, a Rússia é hoje um grande canteiro de obras. Com os preparativos para a Copa de 2018 chegando na reta final, há o temor de que haja superfaturamento nas obras como legado para a população. Especula-se um superfaturamento superior a 100% nas obras de sete estádios, são eles: Kaliningrado, Samara, Saransk, Volgograd, Rostov-on-Don, Yekaterinburg e Nizhny Novgorod. Mediante as acusações por auditorias oficiais de Moscou, não se têm provas que confirmem tais suspeitas.

 

De acordo com o cientista político da UFPE, Felipe Cavalcanti, a Rússia é um país historicamente envolvido em escândalos de corrupções: “Esse fator é atribuído desde os tempos medievais, do Império Russo, onde o czar subornava os tribunais. Atingiu seu ápice após o colapso da União Soviética, na década de 90, devido à economia e política fragilizadas”, afirma. “A diferença entre esse mal social naquele período e na atualidade, é que, hoje, Putin tenta naturalizar a corrupção como algo normal e civilizado, com apoio da elite nacional”, reitera Felipe. O terceiro mandato do presidente é marcado por um grande número de funcionários corruptos no governo.

 

Outro exemplo onde esporte e política se entrelaçam e comprovam que há uma grave crise esportiva na Rússia, pode ser percebido no episódio que ocorreu às vésperas das Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016: o maior escândalo de doping já enfrentado por uma nação olímpica. Foi descoberto um sistema para encobrir resultados dos exames antidoping, apoiado pelo governo. A cada mês, novas denúncias aparecem e nomes importantes do país são envolvidos no esquema.

 

O que esperar dessa Copa do Mundo?

Das onze cidades escolhidas para sediar a Copa do Mundo nos meses de junho e julho do próximo ano, - Moscou, São Petersburgo, Kazan, Sochi, Yekaterimburgo, Nizhni Novgorod, Volgogrado, Samara, Rostov do Don, Kaliningrado e Saransk -, Moscou contará com duas praças esportivas, somando 12 estádios ao todo.

 

Faltando cerca de 430 dias o evento, a maioria das obras encontram-se finalizadas, com exceção do estádio na ilha de Krestrovsky. O novo estádio terá capacidade para 68.134 torcedores e está em obras há mais de dez anos, desde 2010. O orçamento já superou R$ 2.3 bilhões e no ano passado o governo demitiu a empreiteira Transstroy, responvável pela construção e acusada de desvios de verbas públicas. A arena vai receber sete partidas no Mundial, entre elas uma das semifinais e a disputa de terceiro lugar.

 

No que diz respeito à segurança durante o período do campeonato, fatos recentes contrariam as expectativas. O atentado terrorista que ocorreu na última segunda feira (3), na Cidade de São Petersburgo, abalou esse quadro, deixando 11 pessoas mortas e cerca de 45 feridos. A explosão aconteceu a 7,5km do polêmico estádio Krestovsky, que sediará as partidas de abertura e encerramento na Copa do Mundo. Nos últimos anos, as cidades russas têm sido alvo de atentados terroristas levados a cabo por militantes extremistas, como ocorreu no fim de 2013 com o ataque jihadista. O comitê organizador da Copa das Confederações garante que, apesar dos últimos acontecimentos, há segurança nos estádios.

bottom of page