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Pés incessantes, em movimento quase contínuo, jogam areia pelos ares. Uma arquitetura horizontal, de muitas casas e alguns poucos prédios baixos, compõe a vista do entorno próximo. Garotos, entre oito e doze anos de idade, correm atrás da bola. Afinal de contas, o jogo é dela. O jogo da bola.

Na capital pernambucana, existem três times principais no futebol, com grandes sedes e estádios: Náutico, Sport e Santa Cruz. Nas periferias, existem incontáveis times, que disputam pequenos campeonatos. São os times de bairro ou times de “futebol de rua”, onde muitas crianças integram as equipes, chegando a ter sessenta crianças em um único jogo nos treinos. Essas equipes costumam treinar em espaços públicos, em campos que, diferentemente do que vemos na TV, não possuem grama: são campos arenosos, nas periferias da cidade, que muitas vezes passam despercebidos por aqueles que não são da comunidade.

 

Um desses times de comunidade é o Pernambucanos, criado em 2004, na comunidade do Coque. Amaro Ferreira, treinador da equipe, conta que o time possui 225 pessoas cadastradas, entre seis e dezoito anos “nossa missão no Pernambucanos é afastar esses meninos das drogas. A violência está cada vez pior aqui na comunidade, e tentamos ocupar o tempo dessas crianças com futebol, mostrando como essa atividade pode ser benéfica para eles. Com poucos recursos financeiros, conseguimos manter o Pernambucanos e até viajar para competir em outros estados. Alguns meninos jogam apenas por diversão, mas a maioria aqui sonha em ser jogador profissional”, conta Amaro.

 Os treinos do Pernambucanos geralmente são realizados em campos abertos próximos ao terminal de Joana Bezerra. Visitar um desses campos é ver, com clareza, a disparidade social e econômica presente na cidade do Recife. A “arquitetura de urgência” do Coque – casas com “remendes”, improvisações, muitas vezes com tijolos aparentes – contrasta com o lado oposto da paisagem, carros de todos os tipos são vistos atravessando o viaduto Joana Bezerra, muitos deles com destino à área nobre da cidade, e logo atrás alguns prédios altos e em ótimo estado de conservação marcam o cenário. 
 

Por Sofia Lucchesi

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Futebol de rua: resistência e ferramenta social nas comunidades

Para manter o time, Amaro recorre ao PELC (Programa de Esporte e Lazer-Recife), recebendo quinhetos e cinquenta reais por mês como ajuda de custo com materiais e roupas. O convênio com o PELC acaba em maio, o que preocupa o treinador. "Eles não querem investir em esporte, querem cortar o que já era pouco, mas vamos lutar para não perder o convênio. Já conseguidos tirar crianças que eram viciadas em drogas, como o crack e queremos continuar trabalhando", conta Amaro, preocupado. 

Na Zona Sul, o bairro de Brasília Teimosa é referência na luta pelo direito à moradia. A “teimosia” dos moradores do bairro faz com que a comunidade resista à especulação imobiliária há mais de cinquenta anos. Não poderia ser outro, então, o local de nascimento do Mogi Mirim, há 25 anos, 1992. 

O time se mantêm financeiramente com apoio da Igreja Batista e de alguns comerciantes da comunidade. Geraldo dos Santos, treinador da escolinha que atende em torno de duzentos jovens e crianças, conta que o apoio da comunidade é fundamental para a resistência do Mogi Mirim: "A comunidade apoia muito, porque todo o mundo aqui sabe como está a Brasília Teimosa. Ocupando o tempo dos meninos com futebol, eles ficam afastados das drogas, do tráfico e aprendem uma profissão. Nosso trabalho não é só de formação para o esporte, mas também de formação humana, para a vida", afirma Geraldo, orgulhoso. 

O estudante Pablo Kevin, de dezessete anos, chegou à escolinha com doze anos. Hoje, quer ser jogador profissional: "É muito bom fazer parte do time, conviver com os colegas. Muita gente que treinava aqui hoje jogam nos times grandes". Para ele e outros meninos, o futebol não é apenas um esporte, mas uma esperança. 
 

O Mogi Mirim, possui uma sede no bairro de Brasília Teimosa, onde guarda inúmeros troféus de campeonatos. 

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