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Esporte feminino na Arábia Saudita: o jogo está virando.

A Arábia Saudita é um país conhecido mundialmente por sua sociedade que tem um tratamento segregador com as mulheres. Apesar de estarmos no ano de 2017, mulheres não podem viajar para fora do país, serem liberadas da prisão, trabalhar, terem plano de saúde ou casar, sem a permissão de um responsável do sexo masculino. Sem falar que elas também ainda não podem dirigir – coisa que está prevista para mudar daqui a dois anos.

Com tantas limitações em diversos âmbitos da vida, no esporte não é diferente. A divergência das oportunidades nesse mundo esportivo entre homens e mulheres é gritante. Escolas na Arábia Saudita são divididas por gênero. Até 2013, as escolas privadas para meninas não tinham aulas de educação física, por exemplo. As públicas ainda não oferecem o serviço. Enquanto as para meninos, investem na área desde o ensino fundamental. Existe no momento uma discussão sobre os benefícios para a saúde das meninas, com a adesão dessas aulas, assim como o acesso delas no esporte num geral.

 

Prova disso é o fato de que as mulheres sauditas não têm a mesma infraestrutura no setor. Elas não são permitidas a assistir aos jogos e partidas masculinas, nem participar de torneios nacionais ou ligas de esporte organizadas pelo Estado. Nenhum dos 150 esportes oficiais no país é aberto para mulheres.

 

O que é pedido para o Governo é uma lista com os seguintes tópicos: introduzir educação física obrigatória em todas as escolas públicas para garotas ao longo dos anos de escolaridade e estabelecer um calendário claro; criar uma seção de mulheres no Comitê Olímpico Nacional da Arábia Saudita; estabelecer federações de esporte para mulheres e permitir que compitam nacional e internacionalmente; fornecer financiamento, treinamento e apoio às mulheres que querem competir igualmente aos homens; e permitir que as mulheres sauditas participem de eventos esportivos nos estádios do país, incluindo assistir às equipes masculinas nacionais.

Em 2008, a Arábia Saudita foi um dos três únicos países a enviar apenas homens para as Olimpíadas em Pequim. Em 2012, pela primeira vez, foram enviadas duas mulheres: Wujdan Shaherkani, na modalidade do judô, e Sarah Attar, na modalidade do atletismo. O convite foi feito sob pressão, já que era a última nação a fazer isso. E, mesmo assim, com apenas algumas semanas para se preparar, elas tinham que se vestir “modestamente”, ser acompanhadas por responsáveis do sexo masculino e não se misturar com homens. Elas participam dos jogos e competições usando o jihab.

Em julho de 2016, o país anunciou que quatro mulheres competiriam nos jogos olímpicos do Rio de Janeiro. Duas corredoras, Sarah Attar e Cariman Abu al-Jadail, Lubna al-Omair competindo pela esgrima, e Wujud Fahmi no judô. No mês seguinte, em agosto, a princesa Reema Bint Bandar Bin Sultan Al-Saud foi noemada, pelo Conselho de Ministros da Arábia Saudita, para comandar o Departamento de Mulheres da Autoridade Pública de Esportes.

 

Tal conquista foi de extrema importância para a caminhada que vem sendo a luta pelos direitos das mulheres no país. “São acontecimentos como esse que mostram que as tradições estão mudando com o tempo. As pessoas evoluem. Os esportes aqui estão se encaixando nisso, assim como a política. Tudo está mudando, e mudando para melhor”, relata Khalid Al Saud, diplomata e também príncipe saudita.

 

Portanto, a lição que fica é clara: as mulheres na Arábia Saudita estão conquistando aos poucos a sua liberdade. Seja no mundo do esporte, seja em qualquer ambiente da vida. O que importa é que o progresso está ocorrendo. E sim, é cedo para dizer que um dia elas terão a mesma autonomia que as mulheres ocidentais. Mas, definitivamente, nunca é tarde para ir atrás dos seus direitos e virar o jogo.

A corredora Sarah Attar realizando sua prova nas Olimpíadas de 2012

Delegação da Arábia Saudita na cerimônia de abertura das Olimpíadas no Rio em 2016 (Foto: Google)

Por Júlia Molinari

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