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Jogo da Morte: quando o futebol resistiu ao Nazismo

Imagem retirada do site ELHOMBRE - "O dia em que o futebol venceu o Nazismo"

Por Débora Oliveira 

Em meados da década de 40, a Alemanha invadiu algumas cidades e, entre elas, Kiev, localizada na atual Ucrânia. Com a ocupação, a população tentou resistir, e milhares se juntaram para tentar impedir a entrada do exército alemão na cidade. No entanto, muitas pessoas foram dizimadas, e a outra parte delas tentou recomeçar a vida mesmo com a cidade ocupada. Assim, entre tantas proibições, alguns foram abrigados em fábricas, como é o caso dos jogadores do Dínamo, até então melhor time da Europa.

O time foi extinto por ordens alemãs, e os jogadores e muitas outras pessoas que lutaram contra os alemães foram abrigados por Josef Kordik, um grande torcedor do Dínamo, e principal responsável pela história que vem a seguir.

Em plena era nazista, o que pensar de um time de Ucranianos, que lutaram contra a entrada dos nazistas, em uma cidade ocupada pelo exército alemão? Josef esperava que o time fizesse história, e assim foi feito. Além de dar o emprego, Josef incentivou os jogadores a manter o time, renomeando o para FC Start, e permitindo que os jogadores treinassem durante o dia, e durante a noite eles trabalhariam na fábrica.

Os alemães, ao descobrirem a existência do time, tentaram manter a normalidade na cidade, com o intuito de não causar revolta na população, inclusive decidindo permitir que algumas partidas fossem realizadas na cidade. O time, que era formado por cidadãos ucranianos realizou, invicto, partidas contra times de soldados alemães, húngaros e romenos.

A partir daí o time passou a ganhar grande reconhecimento do público, e assim muitas pessoas passaram a adotá-los como um símbolo de resistência, fazendo com que o exército Alemão também começasse a enxergá-los como uma grande ameaça.

 

 Por seu reconhecimento crescente, apenas atacar o time causaria um grande desconforto, podendo acarretar situações inesperadas para o exército. Dessa maneira, decidiram “intimar” o FC Start para uma partida contra o Flakelf, time formado por militares da força aérea alemã que servia de instrumento para propagar a “superioridade ariana”.

No dia 6 de agosto de 1942, os times entraram em campo. O FC Start, neste momento, era ainda mais reconhecido, possuindo um grande respeito e admiração do povo de Kiev, causando ainda mais desconforto para os nazistas. O time não recuou, e mesmo em meio a muitas ameaça dos militares alemães, massacraram o Flakelf com cinco gols, contra apenas um do adversário, continuando invicto e aumentando ainda mais a fúria Nazista.

Se antes os Nazistas já estavam irritados com a resistência dos Ucranianos, agora eles tinham ordem expressas, vindas de Berlim, para dar um fim na situação. Mas não sem antes uma revanche para tentar apagar a ideia de que o nazismo havia sido vencido pelos jogadores que causavam um grande entusiasmo nos moradores de Kiev, torcedores do FC Start.

Então, no dia 9 de agosto foi realizada a partida que ficou conhecida como Jogo da Morte. O estado de Zenit estava lotado, todo o público ansiava por saber o resultado da partida. No inicio do jogo já era perceptível a resistência dos jogadores, enquanto o outro time fazia a famosa saudação nazista “Heil Hitler” com a mão direita estendida. Os jogadores os FC Start seguiram, colocaram a mão direita no peito e gritaram “Fizculthura”, grito tradicional de atletas na época.

O primeiro tempo terminou em 2 a 1, incomodando ainda mais os alemães; então as ameaças dos oficiais Nazistas se tornaram ainda mais fortes, solicitando a desistência da partida. Os jogadores decidiram continuar lutando, e resistiram mais uma vez. Voltaram para o segundo tempo recebendo investidas ainda mais violentas, e que graças à arbitragem alemã, foram ignoradas. O jogo terminou em 5 a 3 para o FC Start. Se o público do estádio estava em busca de grandes emoções, eles tiveram. Ao final do jogo, o clima ficou confuso, os alemães demonstraram uma falsa aceitação, e o FC Start seguiu para mais uma partida que realizaria no outro dia.

Poucos dias depois soldados alemães invadiram a fábrica de pães, prendendo todos os jogadores que estavam na fábrica no momento, e enviando-os para campos de concentração. Dois dos jogadores conseguiram escapar, pois não estavam na fábrica no momento em que os nazistas invadiram. Josef Kordik, responsável pelo abrigo e emprego foi o primeiro a ser morto.

Cerca de um ano depois do Jogo da Morte, a cidade de Kiev foi retomada novamente e a população pôde se ver livre do exército nazista. Embora o trágico fim do time, a representatividade foi tamanha que até hoje os atletas são lembrados pelo seu povo. Em frente ao estágio do Dínamo (que foi reativado) existe um monumento em homenagem a eles onde está gravada a frase:

“Aos jogadores que morreram com a cabeça levantada ante o invasor nazista”.

Para nós, fica a lição. A resistência pode ter grandes consequências, mas ela é necessária para mudar o rumo das coisas, e abrir a mente da população. E uma lição ainda maior: Se as pessoas se sentem representadas pelos esportes, então eles podem sim ser usados para alertar a população sobre a importância de lutar contra as injustiças.

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