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Coisa de 'vagabundo' é a falta de incentivo

O surfe nem sempre foi um esporte aceito dentro dos padrões da sociedade. No entanto, assim como qualquer outro esporte, pode ser a porta de entrada para a socialização de muitas crianças e adolescentes. Assim como no futebol, o mercado do surfe movimenta uma vultosa quantia de dinheiro por ano, mas a dificuldade em desbancar como um atleta promissor é difícil e requer um caminho árduo e longo, necessitando de incentivos das associações e federações e, principalmente, investimento do poder público para formar grandes campeões.

Antigamente taxado como coisa de ‘vagabundo’ por causa das horas que os surfistas passam na praia, agora é, oficialmente, um esporte olímpico. Entre os profissionais, dois títulos mundiais para os brasileiros, com Gabriel Medina em 2014 e Adriano de Souza em 2015. Isso despertou o sentimento entre milhões de crianças brasileiras, pois, o futebol, considerado o esporte mais popular do país, passava por uma fase de incertezas. Assim, um pouco do preconceito pelo surfe foi deixado de lado e muitos resolveram seguir seus sonhos.

Para a prática do surfe, o essencial é ter força de vontade, afinal, os praticantes dependem das condições da natureza ou, em muitos casos, precisam se deslocar boas horas para chegar às praias mais próximas. Além de toda dificuldade geográfica/natural, adquirir um equipamento de ponta se tornou muito caro. Para se ter uma noção básica, uma prancha em boas condições custa, em média, R$600,00, sem contar os adicionais como quilhas e strep (a cordinha que prende a prancha à perna do surfista). Dessa forma, muitos garotos que possuem extremo talento dentro das águas estagnam sua evolução por falta de investimento em equipamentos e, até mesmo, por falta de auxílio psicológico, afinal, todo bom competidor precisa saber lidar com as emoções da vitória e as decepções da derrota.

                               Foto/reprodução: facebook

Uma alternativa para fomentar a indústria do surfe é, sem dúvidas, a realização de campeonatos com premiações para que os jovens se motivem e consigam melhorar seus equipamentos. No entanto, a Federação Pernambucana de Surfe, órgão responsável pela organização de eventos, está, atualmente, quase inativa, sendo a realização de campeonatos feita através de incentivos privados com taxas de inscrições elevadas para atletas com condições mais humildes, deixando passar, assim, muitos talentos do nosso estado e, principalmente, afundando o sonho de muitos que um dia desejam se tornar campeões. Além disso, é proveitoso abrir os olhos para o mercado do surfe, pois, de acordo com dados de 2015 do Ibrasurf (Instituto Brasileiro de Surfe), somente o setor de confecção de moda – camisas, bermudas, bonés - movimenta cerca de R$ 2,5 bilhões e representa 15% da indústria têxtil, o que faz crescer o interesse de empresas brasileiras em se aproveitar da imagem do surfe, porém, o investimento em surfistas não cresce na mesma potência.

Um dos maiores exemplos da falta de investimento e incentivo do surfe é Tiago Silva, pernambucano e atualmente campeão brasileiro pro júnior da categoria sub-20. Tiago, conhecido entre os amigos como ‘Tiaguinho’, participou de um campeonato realizado pela Blackfish, na praia de Guaraú, em Peruíbe, litoral sul de São Paulo, e precisou pedir ajuda de amigos e adeptos à causa para bancar sua viagem. Segundo relatos do próprio Tiago, ele e seu conterrâneo Ivan Silva, precisaram fazer posts nas redes sociais para conseguirem auxílio exclusivamente para sobrevivência e continuarem mantendo seus sonhos vivos.

“Eu estava sem dinheiro para poder ir ao evento, então, postei nas redes sociais falando que ia desistir do meu sonho. Então, chegaram vários amigos me incentivando e pedindo para eu não desistir. Com a ajuda deles, consegui viajar e ser campeão brasileiro”, disse Tiago.

                                Foto/reprodução: facebook

 

Com o dinheiro, Tiago só conseguiu comprar sua passagem para São Paulo e mesmo sem lugar para dormir ou comer, resolveu seguir seu sonho. Ao chegar no litoral paulista, os surfistas mais uma vez pediram auxílio nas redes sociais para conseguirem comer e dormir. Dessa forma, percebe-se o descaso do estado com nossos atletas, com nossos possíveis campeões. Tiago precisou pedir ajuda aos amigos ao invés de solicitar suporte da Federação ou do próprio estado. No final, voltou para Maracaípe, praia onde mora, com o título de campeão brasileiro pro júnior.

Assim, não apenas o caso de Tiago é que merece destaque, mas vale lembrar a quantidade de atletas que lutam, diariamente, em busca de seus objetivos, dificultados, principalmente, por falta de investimentos e subsídio do governo. Quantos talentos precisaremos perder ou quantos ‘Tiagos’ devem existir para que o fomento ao esporte até pouco tempo atrás era considerado coisa de ‘vagabundo’ seja aceito e propagado na sociedade? Como já citado, temos atletas de ponta que já provaram seu valor e, além do mais, o surfe agora se tornou um esporte olímpico, ou seja, é necessária a divulgação, o investimento e o incentivo, em trabalho com federações, associações e governos municipais para que haja o viés de mão dupla entre o surfe e o estado.

Por: Rafael Urzedo

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