
O que fizeram com Eládio?
Por Almir Cunha
Contam os historiadores que o torcedor Eládio de Barros Carvalho foi um goleiro das divisões de bases do alvirrubro da Rosa e Silva na década de 20. O amante das cores vermelha e branca depois de servir o clube nos gramados, não deixou mais de colaborar com o crescimento da instituição, chegando a diretoria e até treinando a equipe de 1930. Mal sabia ele que no dia 15 de maio de 2013, o Clube Náutico Capibaribe, fazia sua estreia em um amistoso com o Sporting de Portugal, há cerca de 20km de distância do estádio que carrega o seu nome e foi apelidado de Aflitos. Pobre Eládio, o que fizeram com o teu legado?
Pois é meus amigos, excluíram qualquer sentimento afetivo em busca de uma modernidade que procuramos até hoje. O que a Arena trouxe de benfeitoria? O Náutico pós-Arena se agigantou no futebol brasileiro?
É seu Eládio, digo convictamente, a resposta é não.
Aflitos pra sempre
Muitas foram as aflições naquela arquibancada de cimento. Arquibancadas essas onde passei muitas alegrias, decepções e fiz algumas amizades regadas a cerveja na sede social. Arquibancadas que deram lugar as confortáveis cadeiras da Arena Multiuso. Por sinal uma imensidão de cadeiras, sem comparação com o pequeno, porém aconchegante Estádio dos Aflitos. E o pior, não sabemos o real valor do preço dessas cadeiras, muito menos o custo aos cofres públicos do Estado de Pernambuco na construção da fria Arena de Pernambuco. Tão fria quanto o coração saudoso do torcedor timbu ao saber que aquela partida contra a Portuguesa pelo Campeonato Brasileiro de 2013, com direito a muita emoção e gol de empate aos 48 minutos do segundo tempo, do meio campista prata da casa, Marcos Vinícius, seria a última partida de sua história naquele pedaço de chão. Na grama alta e desregular coadjuvante dos bons resultados caseiros, atrelado ao nosso bom desempenho tático, montamos um time na temporada 2012-2013 inesquecível e imbatível.
Lembro como se fosse hoje a força do meio campo pra frente, com Martinez, Souza, Rhayner, Araújo, Rogério e Kieza. Pode ficar tranquilo seu Eládio, vivenciamos sim momentos gloriosos. Claro, não tem como esquecer da fatídica partida conhecida por todos como a Batalha dos Aflitos. Presenciei tudo aquilo. Mas no final das contas, no outro ano, também estava lá e foi nos nossos domínios, que vencemos o Ituano retornando a elite do futebol brasileiro.
Vão dizer os que defendem o futebol moderno: “é necessário a tecnologia, o conforto, a boa visão do gramado e outras coisas que trazem para o torcedor vontade de ir ao estádio com tudo de mais avançado presente no futebol mundial.” Afirmo que somos um ponto fora da curva. A defasada mobilidade da Região Metropolitana do Recife, jogos em horários e dias incompatíveis com a vida dos trabalhadores brasileiros, arquibancadas vazias, um contexto que traz muita contradição, pois onde já se viu, um campo de futebol ser um um local hostil?
Cadê a Rua da Angustura? Não enxergamos. Ao em vez da Avenida Alvirrubra, visualizamos um estacionamento estrambólico com um valor exorbitante. Pois é senhoras e senhoras, querido Eládio, estou certo de que aflitos estamos para voltar ao nosso lar. Aflitos seremos sempre ao se deslocar para o meio do nada na cidade de São Lourenço da Mata. Aflitos presente em nossos corações.