
Do peão ao rei: observações e anseios do xadrez
A competição se inicia, são trinta jogadores, que com o passar do relógio viram quinze. O tempo é primordial, mas não mais do que a capacidade de raciocinar mais rápido que o ponteiro. Definitivamente, o Xadrez é uma corrida, não aquela que damos para pegar a bola no gramado, ou a que damos para saltar mais alto, mas uma corrida contra o tempo.
Correm quinze, que logo se tornam dez. A competição se acirra ainda mais, e é cada vez mais difícil em meio a todas aquelas mentes trabalhando, saber que dupla será a protagonista do confronto final.
A vida não é um jogo, mas o xadrez, com certeza, é muito mais que isso. Um esporte que tira o fôlego e deixa mais expectativa e confusão que uma partida de Hóquei. Ora frenético e encantados, ora calmaria.
- Mas desde quando xadrez é esporte? Pergunta um curioso atento à seriedade em que a competição a dois acontece.
Agora são cinco, que já exaustos competem com seus reis.
Olhares atentos e ferozes
De um lado Xeque, com o rei, jogada perigosa e talvez precipitada.
Do outro, o participante prepara sua torre e seu rei para um tradicional roque, que transforma a torre numa oferenda.
Xeque-Mate
Agora são apenas quatro
Xeque-Mate
O ponteiro do diferente relógio usado para esse esporte marca mais uma jogada final.
E finalmente, o momento tão esperado. O combate a dois necessita um pouco mais de preparo. Saem de campo, bebem água.
Descansam a mente e o corpo, que já exaustos das longas horas que se passaram com os cliques dos relógios demonstram querer que a última partida passe mais rápido.
Entram em campo, pela última vez no dia, os amigos. Sentam-se em suas cadeiras. Posicionam-se frente a frente. Passaram-se 30 segundos e foi perceptível que, naquele momento, eram rivais.
Cada partida de xadrez é um campo de guerra e quando se entra em situação de confronto, poucas coisas são capazes de lhe fazer parar. Para muitos, o jogo é incompreendido e subestimado. Mas, para os poucos que são capazes de sentir na pele o arrepio de planejar uma estratégia e conseguir aplica-la mesmo com as inúmeras possibilidades do erro, não sabe o que é padecer no paraíso.
Atento, o curioso ainda observa os movimentos dos últimos a sobreviver no campo. Agora, entendendo que a noção de esporte que ele conhecia era pouco, perante a amplitude das competições que existem. Entusiasmado, observou atentamente o xeque, após 20 minutos de partida.
- Agora já era...não tem mais para onde correr!
Tolos os que não compreendem que uma partida de xadrez, tal como a vida, tem inúmeras reviravoltas. Estrategistas, os dois rivais continuam a partida por mais 30 minutos. Durante a exaustão, um deslize.
Xeque-Mate
Nem todas as estratégias do mundo são capazes de ser exatas quando se trata desse esporte. Temos estatísticas, uma lista de todas as jogadas possíveis, cronometramos o tempo exato. Nada disso é capaz de prever o final da partida.
Agora, os rivais se tornam amigos novamente. E o prêmio?
Xadrez é um esporte incompreendido. Diferentemente de outros esportes, não se ganha 500 mil reais mensais jogando xadrez. Em grande parte, os prêmios incluem cursos, bolsas ou uma quantia arrecadada com a venda dos poucos ingressos para assistir e participar do torneio.
O esporte incompreendido, por sua vez, não precisa de grandes públicos, uma vez que isso dificultaria todo o processo lógico que está envolto na batalha. A sina do esporte incompreendido é, apenas, fazer parte de uma olimpíada e poder mostrar que o esporte “parado” e focado é capaz de provocar tantas surpresas e vontade de torcer como, por exemplo, o tão amado futebol.
Por Débora Oliveira