
Pão e MMA
Esses dias, percorrendo a extensa programação da TV a cabo, meramente por hábito - ou tédio - sem a esperança de achar algo atrativo, entre bobagens e propagandas, finalmente me deparei com algo que me prendeu a atenção: estava passando o famigerado "Spartacus", de Kubrick. Um épico da década de 60 que conta a história de um escravo romano que almeja sua liberdade. Dentre as reviravoltas da trama, as cenas das grandiosas lutas nas arenas com as multidões aclamando, me remetem à minha bagagem histórica construída no ensino médio, a exemplo do conceito de "política de pão e circo". Através desses jogos, o Império Romano tinha como objetivo manipular a população, oferecendo alimento e entretenimento, desviando assim a massa dos questionamentos políticos da época.
Ontem à noite, assistindo uma reprise de MMA, observo as semelhanças entre os gladiadores da Roma Antiga e os espetáculos esportivos de hoje em dia. Assim como era praticado há séculos atrás, fazemos de um megaevento esportivo mercadoria. Nessa loucógica capitalista em que a venda do anunciante vale mais do que a representação do esporte em si, em terra de cego quem tem olho, no minímo, se assusta.
Entre um jab direto bem encaixado, o tatami e um subsequente mata-leão, a plateia vai ao delírio com o fim da luta se aproximando. Eu, como telespectadora, me pego vidrada na frente da TV e com o coração batendo forte. Um esporte tão fascinante como o MMA, que movimento milhoes de doláres em todo o mundo, funciona como uma espécie de mercadoria e a sua espetacularizaçao é uma estratégia para potencializar lucros.
Um exemplo dessa espetacularização é a capacidade da mídia de transformar esse fascínio em produto, com eventos como o Ultimate Fighting Championship (UFC) e o reality show The Ultimate Fighter. Ela também constrói a imagem dos “grandes heróis esportivos”, como pôde ser visto com Anderson Silva.
Nesse sentido, somos escravos, assim como o Espártaco de Kubrick, do nosso meio.
Por Camilla Alves