
Família e futebol: até onde um pai aguenta
Naquele fim de noite de quinta-feira, Seu Jairo estava empolgado e nostálgico. Seu Jairo é o meu avô. Ele tem 65 anos e, com o tempo, passou a ter uma relação de amor e ódio com o futebol. Eu não entendia direito até ele contar a história.
- Sabe, Joana? Eu sempre tive orgulho de ser tricolor. Até quando ele não vai bem, não consigo deixar de ter esperança e torcer. Porque raiva dá e passa. Mas acho que o maior desgosto que tive foi seu pai se tornar jogador daquele timezinho. Meu filho? Jogando pelo rubro-negro? Eu que sempre gostei de acompanhar futebol, não soube como lidar com aquilo. Foi no ponto fraco. – desabafou.
- Mas vô, que besteira! É só um time. Ele ainda é o seu filho. Desgosto é uma palavra tão forte... – retruquei.
O que eu não compreendia era que meu avô era daqueles torcedores fervorosos. E amava futebol tanto quanto sua religião. Ter seu filho desfilando com a camisa do time rival, e levando o nome da família para aquilo... Era demais.
- Minha neta, é justamente por isso. Ele é o seu pai, o meu filho. Quem eu mais amo na vida. Trabalhando como jogador do time que eu mais odeio. Eu fico tão orgulhoso de saber que ele tem tido sucesso, mas fico tão triste de saber que não foi no nosso querido time. – Seu Jairo abriu o coração.
- Entendi, vô... Tudo bem. Complicado, então. – assenti, com cara de pensativa, tentando aceitar a profundidade que aquilo tinha para o meu avô.
- Bem complicado. Mas está tudo bem. Eu só quero a felicidade dele, por mais que isso custe me zangar de vez em quando. – admitiu.
Logo após ter dito isso, a campainha tocou. Minha avó atendeu, era meu pai. Da sala de estar, Seu Jairo avistou o meu pai entrando pela porta. Com a camisa vermelha e preta do tal time. Não deu outra.
- Marcelo, que bom que você veio jantar com a gente, meu filho! Mas veja bem... Você só senta nesta mesa depois de trocar de roupa.
Todos riram. Mas ele estava falando sério.
Por Júlia Molinari